sábado, 23 de outubro de 2010

Destino: logo após a fila da cantina, do lado da garota morena.

São Paulo, 25/10/2010

Querido Garoto Sardento,

Agora são exatamente nove e cinco da manhã de uma segunda-feira gelada. Eu sinto frio em todas as partes do meu corpo mas, principalmente em meu nariz, o qual parece ter se separado do meu rosto já que não o sinto inteiro mais. Consigo te ver quando inclino minha cabeça para esquerda, desviando da enorme fila da cantina. Confesso que meu pescoço está doendo pois já fiz isso várias vezes. Você percebeu?
Garanto que não sente tanto frio como eu, não somente pelo fato de você ter luvas quentinhas e eu não, pois sempre as perco, mas também por você estar usufruindo do calor dessa garota morena sentada ao seu lado. Pergunto-me como ela consegue aguentar todo esse vento com a barriga de fora...
Mas, trocando de assunto, quero assegurar-lhe que não falo tantas besteiras normalmente, elas apenas saem por sua causa. Quando fico atrás de você na fila do bebedouro, tenho de morder minha língua para não começar a tagarelar como uma louca e, assim, te assustar. Ou quando no dia 15 de setembro, as quatro da tarde, você tropeçou ao descer o último degrau da escada e ao ver que eu havia presenciado , sorriu envergonhado. Nessa hora minha vontade era de contar-lhe sobre meus sonhos e planos para o futuro, sem uma razão aparente, simplesmente não consigo resistir a essa "coisa" que sua presença me traz.
Sinto-me mal por classificar tal sentimento dessa maneira, mas no fundo, sei o que ele significa, só não sei se é possível ele existir tão bravamente dentro de uma pessoa só.
Eu sei que as quarta-feiras você tira como um descanso e fica até tarde assistindo televisão, seu cabelo desarrumado (mas não feio) e suas olheiras fortes (mas fofas) do dia seguinte alegam esse fato. Eu sei que você sofre pelo fato de seu irmão ser diferente dos coleguinhas da turma dele, eu vejo você olhar esperançoso para o parquinho enquanto está sentado com ele quieto ao seu lado. Eu sei que você usa uma pulseira da sorte, sei que seu sabor de suco favorito é abacaxi, sei que seus olhos claros ardem no sol forte e sei que você tem uma cicatriz atrás da orelha.
Eu sei tudo sobre você. Da mesma maneira que sei que o espaço vazio ao meu lado aqui no banco não vai ser preenchido por você. Seu lugar é aí, do lado da fonte de água (suja), perto da entrada da biblioteca, do lado da sua garota e longe de mim. Mas quero que saiba que, apesar da distância, consigo te sentir do meu lado, sinto toda a sua felicidade refletir-se em mim quando você ri, sinto o ar passar por meus pulmões quando você respira, sinto que vivo por você e sei que enquanto você sorrir, eu sorrirei.
Garanto que daqui alguns anos esse sentimento irá passar, eu estarei realizando meus sonhos, vivendo minha vida e você vivendo a sua. Afinal, isso define o que sinto por ti, platônico quer dizer, ao menos para mim, amar de forma inocente, querer te ver bem, apenas para conseguir dormir em paz.
Só peço que não se assuste se perceber e tente não me magoar, já dói o bastante te ter longe. Não é uma loucura, é apenas uma frio na barriga que sinto ao te ver, um aperto no coração ao saber que você está por perto e uma dor constante ao perceber que eu, apesar de te conhecer totalmente, não te tenho.
Sinto-me idiota agora, terminando essa carta, pois sei que não terei coragem de entregá-la. Quem sabe, em algum momento, eu surte e deixe-a cair em sua bolsa... Ou talvez colocá-la secretamente em seu armário...
Ou talvez guardá-la bem escondida, de modo que, daqui alguns anos, ajude meus filhos quando passarem por essa fase. Você sabe, conhecimento de causa as vezes ajuda e ajuda é tudo o que o apaixonado precisa nessa relação inexistente. Eu preciso de ajuda para desligar-me de você. Portanto, prometo a mim mesma que, depois de fechar esse envelope, você sumirá da minha mente, dos meus pensamentos, de dentro do meu armário e de todos os lugares que já tomou conta.
Por favor, fique longe dos meus sonhos, eles eu não posso controlar...

Adeus,
Da Menina Branquela sentada logo após a fila da cantina.

PS: Se eu fecho os olhos bem forte e penso que minha vida é um filme, consigo me ver daqui 10 anos, te encontrando em um café qualquer. A única diferença é que, dessa vez, você me notaria.



Cartinha bobinha que escrevi pro Bloínques.
Ah, ganhei segundo lugar com a Urna de Ilusões.
Beijo.

8 comentários:

Anônimo disse...

Julia

Adorei a sua carta e comosoube detalhar myuito bem na carta sobfre o amor platônico. Quem já não teve um?

Boa sorte e parabénns pelo 2º lugar em Urna de ilusões.

Beijos e boa semana

Helen Karoline disse...

Sua carta tá muito bonita. Sério. Você escreve muito bem e escrever sobre amor platônico não e tão simples haha Mas você soube brincar com as palavras e ficaram perfeitas.
Mas enfim, t;a tudo mto lindo aqui.
Beijos e boa sorte :*

Erica Vittorazzi disse...

Eu rasgaria a carta. Ajuda, muito!

Beijos


bom texto!!

Anônimo disse...

Olá querida, que conto gostoso de se ler...

tambem achei aqui lindo, um beijo grande!

Malu Azzoni disse...

Mas que liiindo Julia Maria! Amei.
Parabéns pelo segundo lugar!! To indo ler o texto.
beijos beijos, futura amiguinha de escola (novamente. haha).

Nina Auras disse...

Julia querida, que lindo texto! *-* Mas, uma única pequena duvidazinha... Ele é verídico? Porque, é sério, eu adorei. Engraçado de certo modo, também, por causa dos nomes como "Querido Garoto Sardento" e "Menina Branquela sentada logo após a fila da cantina". Adorei ♥

Alguém... disse...

Não sei como não ganhaste o 1º prémio.
Parabéns (:

Beijinho*

Jana Santana disse...

Poxa, vc escreve lindamente. Era assim q eu gostaria de escrever aos 15. hehe. Encontrei teu blog no skoob. Beijos!