sexta-feira, 25 de junho de 2010

1, 2, 3 pinceladas.

Joguei a bolsa no chão e, enquanto esta ainda caia, joguei-me também. Podia sentir a grama gelada molhando minha calça e gotas caiam sobre o meu nariz.
Olhava ao redor, 1, 2, 3, contava quantos pulos as pequenas pedras davam antes de mergulhar na escura água do lago, o qual centralizava o quadro sem moldura que eu observava com os olhos levemente pesados.
Quando o vento desistiu de seu jogo bobo com a árvore molhada, as gotas, que antes trilhavam caminhos em meu rosto, cessaram, indo de encontro ao chão.
1,2,3 voltas o "ponteiro pai" do meu relógio havia dado.
1,2,3 borboletas azuis cansaram após várias cambalhotas no ar.
Sentia tudo mudar, menos aquilo, tal coisa que minutos atrás não sabia da existência e, agora, em meio a este aperto interno, passei a conhecer.
Sinto muito, saudade, preferiria nunca ter este prazer.
Mudando de quadro pela primeira vez, olho para o lado, onde encontro somente a moldura de um auto-retrato, onde você deveria estar do meu lado, representado, rabiscado, rasurado, tinta à óleo ou giz de cera, preenchendo esse vazio.

terça-feira, 15 de junho de 2010

"Sobre seu irmão mais velho..."

As rosas do buquê começavam a espetar na hora em que vi mamãe passar pela porta da igreja.
Não procurei olhar os detalhes do vestido nem os convidados, que suspiravam emocionados conforme ela passava. Aquilo era rotina para mim.
Já havia segurado 13 buquês, provado 13 vestidos, feito 13 penteados diferentes, que ao final nem eram tão diferentes assim.
Assisto minha mãe se casar desde os 5 anos de idade, quando mamãe resolveu recomeçar sua vida e descobriu um novo vício: casamentos. Vício que afeta toda a sua família, que neste caso,
sou eu e minha chinchila Meg. Eu e Meg já moramos em 12 casas, o que é anormal para uma chinchila cinza e para uma garota que nunca foi beijada.
Enquanto contava quantas pessoas dormiam, senti um cutucão de Claire, que usava aparelho e era alérgica a pelo de animais, coisa que não a favorecia muito, já que era filha do dono da boca que agora beijava mamãe.
A cerimônia terminou rapidamente, levando todos ao salão, onde a festa acabou mais rápido do que posso lembrar.
Ao chegar em minha nova casa, mamãe contou-me que dessa vez eu não iria junto na viagem, o que gerou imensa alegria em mim. Abracei-a fortemente, e em seguido, seu marido, que sorriu e disse-me para cuidar bem de Lucas, que apenas descobri quem era ao entrar na cozinha.
Não era muito amiga de Claire, mas gostava de suas conversas, que, por sinal, nunca incluiram o fato de ela possuir um irmão mais velho chamado Lucas e, muito menos o fato de que eu iria
ficar sozinha com o até então desconhecido enquanto ela estava em um acampamento.
As únicas palavras omitidas na casa nos primeiros dias foram conversas de Lucas com seus amigos. Sentia-me congelada em pleno verão, como aquele sentimento de primeiro
dia de aula, onde você conhece o dono do rosto que estampará seu armário.
Ficava no quarto e descia apenas para cuidar de minha sobrevivência. Ritmo que continuou até o dia em que criei coragem e fui à sala assistir tv, arrependendo-me rapidamente ao escutar "Ah, então você existe, menina invisível...".
Eu era a menina invisível, a qual ele procurou a semana inteira e conquistou com apenas 6 palavras. Ele era o "irmão mais velho", que fez minha cabeça girar com apenas um sorriso e, algum tempo depois,
roubou meu coração com um primeiro beijo inesquecível.
Aquele que fez com que as férias solitárias passassem deliciosamente devagar...
O primeiro dia não parecia tão assustador agora Claire era minha colega de classe, o que me assustava era o fato de que eu estava apaixonada por seu, ou melhor, nosso irmão.
Ela logo percebeu algo de errado em mim e perguntou o que estava acontecendo.
"Então Claire, sobre seu irmão mais velho... Eumeapaixoneiporele."
Espero que ela tenha entendido.

Mais uma tortura de 500 palavras para a Capricho.
Não gostei muito, mas vale a tentativa.

sábado, 5 de junho de 2010

Corda Bamba.

O vento cortante batia em seu rosto, castigando-a ainda mais. Deitada, a indecisão invadia seu ser ao olhar para baixo e enxergar o fim. Mas não apenas o fim, a concretização, o pote de ouro, a terra prometida, a felicidade em si.
Já em pé, chutou, atrevidamente, uma pedrinha, que rolou por três segundos antes de mergulhar naquela imensidão de nada. Chegando mais perto, nenhum som foi escutado e a pressão em seus ouvidos crescera, esperando o barulho de encontro da pedra ao chão.
Nada.
Então era isso? Jogar-se contra tudo e ser esquecida? Sumir como uma água que evapora ao sol quente de dezembro?
Chacoalhou a cabeça, pensamentos negativos não a agradavam, não lá, não na hora decisiva. Tivera um ano para pensar, e foi o que fez, pensando a cada minuto rodado no relógio, montando cada parte do plano. Aquele típico plano que não teria um resultado, coisa que, estranhamente, não é típica. Para que fazer planos quando o futuro é fim?
- Oh, e você Dona Coragem, quando decidirá chegar?
Chegar, chegar, chegar.
Mais um pequeno turbilhão de vento chegara, abraçando-a sem pudores, vento, aquele inconstante, que nos refresca nos dias quentes e nos queima geralmente. Vento que leva embora lágrimas de tristeza, levando também suor de felicidade, vento que derruba e rejuvenesce.
- Você, meu querido vento, avise quando voltar e venha quando eu chamar.
Chamar, chamar, chamar.
Como podemos ser tão diferentes das pedras e ao mesmo tempo, quando jogadas na imensidão, tornarmos paralelas? Em questão de peso, vida e conhecimento, importar mais que uma pedra não leva a nada quando todos estes conceitos te levam à um fim relativamente igual. Cinza, constante.
- Imagino que estejam bravas conosco, pedrinhas amigas, por destruirmos suas famílias, pois quero que saibam que, no final, somos irmãs. Sangue do meu sangue, rocha da minha rocha.
Rocha, rocha, rocha.
Um passo, fim.
Um passo, recomeço.
E, dependendo da direção encontro minha salvação e perco tudo, ou, ganhando o mundo, continuo igual, vazia, densa, petrificada.
Como pode, destino, colocar tudo em troca de um passo? E se tropeço, perco tudo e se danço me arrependo? Corda bamba, dois lugares ao mesmo tempo, fronteira do bom e do melhor, conflito interno irreconhecível, venha me ajudar.
Me empurre nesse penhasco ou me abrace sem soltar.

Estou com um blog novo, onde utilizarei meus dedinhos para o lado fútil que tanto amo. Lá falarei sobre moda, achados, lojas, produtos e cultura inútil.
Bolsa De Amiga, onde você, geralmente, encontra tudo o que precisa e um pouco mais.