domingo, 25 de abril de 2010

Inconstante

Sentindo uma de minhas mãos arder com o contato do copo quente de café e a outra apertar com força a tecla "enter" do teclado, senti a tão esperada sensação de trabalho feito.
Após checar três vezes a caixa de saída -para ter certeza de que havia enviado-, olhei ao meu redor, vendo que a redação continuava cheia. Dia de fechamento da revista era sempre assim, o clima tenso, sem pausas para lanches e conversas, murmúrios de reclamações surgiam a todo momento, junto com o barulho de dentes roendo unhas e dedos batucando na mesa. O rádio ficava desligado -o que era raro, mas preciso-.
Tombando levemente minhas costas no encosto da cadeira, me sentia aliviada. O trabalho estava pronto, as fotos estavam no lugar certo, a capa estava perfeita, o que não era tão difícil conseguir com a foto do Pattinson estampando-a. Era incrível como ele continuava lindo. Ah, os britânicos, perfeitos como sempre.
Recolhi meus óculos de grau, meu Ipod, o copo grande de café e o celular, jogando-os na bolsa. Tirei o casaco, que encontrava-se pendurado na cadeira, segurando-o com a mão livre. Caminhei por toda a redação, desejando bom final de semana a todos, menos a Alisson. Eu simplesmente não gostava dela, estava na cara que estava alí apenas pelo motivo de namorar secretamente o chefe da editora -mas isso somente eu sabia, desde o dia que os encontrei no banheiro, juntos, na mesma cabine-.
Forcei a porta de saída tentando abri-la, ato que era quase impossível devido ao vento que corria contra a porta. Conseguindo o que queria, tive outra luta com o vento, que impedia-me de vestir o casaco.
Sentindo o sol forte incomodar meus olhos, procurei por meus óculos escuros na bolsa, colocando-os em seguida. Eu adorava o fato de Bristol ser tão inconstante a ponto de me fazer usar óculos por causa do sol forte e, ao mesmo tempo, forçar-me a vestir esse enorme casaco por causa do vento gelado.
Meu estômago já contorcia-se de fome, fazendo-me andar mais rápido para chegar logo à estação. Sim, estação. Eu não consegui aprender a dirigir do lado contrário -eu nem ao menos havia tentado, continuo, infelizmente, desistindo fácil das coisas-.
Correndo, para não perder o trem, tentava não tropeçar em meus próprios cadarços desamarrados e tentava aguentar a forte dor que sentia em meu calcanhar, causada pelo forte atrito do all star.
Já sentada no desconfortável banco do metrô, meu Ipod fazia-me companhia. Sentindo um aperto no peito ao olhar o grupo de amigos que se encontrava a minha frente, sentia minha cabeça doer.
Não é fácil morar longe do país natal, não mesmo. Minha cabeça doía por ter que pensar duas vezes para falar, ter que formular a frase em outro idioma, apesar de ser automático, cansava. Sentia falta de falar português com alguém -sem contar as ligações de mamãe no meio da noite, dando-me conselhos como sempre-, sentia falta de casa, estava cansada. Com medo de estar arrependida.
Era isso o que eu queria, certo? Morar em outro país, viver no frio, trabalhar em uma revista, ser independente, viver por mim mesma. Eu tinha tudo o que queria, mas meu peito ainda apertava as vezes. A sensação era como quando íamos pela primeira vez à casa de um amiguinho. Queríamos estar lá, ficávamos ansiosos a semana inteira para ir lá, mas doía ver o carro de mamãe ir embora.
O baque causado pelo freio do metrô tirou-me dos meus pensamentos e, rapidamente, saí do transporte, já sentindo minhas bochechas queimarem com o encontro do vento gelado.
Cansada, parei em frente a porta de meu apartamento, subir cinco lances de escada não era muito estimulante em uma sexta-feira a noite.
De cabeça baixa, entro em casa, aparentando dor de cabeça, tpm, saudades e fome, encontrando, bem em minha frente, meu depósito de emoções.
Aquele que me ouvia, me entendia, me chateava -as vezes- e me ajudava, sempre, estava ali, com uma bandeja em mãos onde uma vasilha cheia de brigadeiro fazia companhia a um comprimido para dor de cabeça.
Ouço um "boa noite, princesa" dito em um português forçado, errado, perfeito, acompanhado de um sorriso confortante.
E, mais uma vez, sinto um grande alívio atingir meu ser.
Era difícil sim, mas tudo ficava mais fácil com ele ao meu lado.
Ele que era inglês, frio, arrogante e egoísta, mas sabia ser quem eu precisava, sempre.
Ah, os ingleses, sempre tão perfeitos!
-

Um conto, só para tirar minha cabeça do tanto de textos dissertativos que sou obrigada a escrever no colégio.
Adoro poder escrever com oralidade, escrever EU milhares de vezes, adoro meu ponto de vista, adoro não pensar em notas.
Mamãe anda me dizendo para estudar, eu só não aguento mais.
Quero ser independente, morar em Bristol, editar uma revista, andar de metrô, morar no quinto andar e ter um namorado perfeito.
Enquanto isso, sonho.



quinta-feira, 8 de abril de 2010

Mamãe ensinou-me...

A nunca desistir, mas que culpa tenho eu de ser assim tão melodramática egoísta e desistente?
Sempre quis fazer coisas que nunca tive coragem e por mais que esteja perdendo o meu precioso tempo -no qual eu deveria estar engolindo e/ou com a cara enfiada no meu livro de matemática- esse texto não vai mudar totalmente minha idéia sobre certas coisas.
Eu sempre quis gostar de café.
Eu sempre tentei ser organizada.
Eu sempre tento lembrar de colocar meias para dormir.
Eu nunca faço minhas tarefas.
Eu sempre esqueço de assoprar coisas quentes antes de levá-las a boca.
Eu sempre vou mal em exatas.
Eu sou teimosa.
Eu não consigo mudar.
Eu acredito na paz -assim como acredito no poder do ódio-.
Eu sofro tentando não roer minhas unhas.
Eu sou exatamente, totalmente e estupidamente clichê.

Quem sabe um dia, querida mudança, você me encontre...
Enquanto isso, continuo sendo um livro aberto.
Aqueles livros chatos, com capas estranhas.
Mas aquele, o qual você tem vontade de ler.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Eu, Ada.

Querida Sorte,
Eu estou aqui, precisando de você.
Encontre-me, lugar não importa, apenas perceba-me.

Obrigada,
(Nessecit, Azar, Humilh) Ada.